No artigo original "Resiliência? O que é isso?" defendi que
resiliência é a capacidade de uma pessoa transcender nos obstáculos, nos
embates, nas adversidades e nos conflitos que a vida apresenta – o inesperado.
Após esse período de novas pesquisas e análises acrescento que essa capacidade
é estruturada pelos esquemas básicos, que denominei de Modelos de Crenças
Determinantes (MCDs) que uma pessoa organiza ao longo de sua vida. Por vezes,
já na primeira infância.
A partir desse meu mais recente conceito me pergunto o que significa ser
resiliente?
Desdobramentos
Ser resiliente dentro desse conceito é assegurar a qualidade essencial
de alguém contar com modelos de crenças que possam responder a uma situação de
aflição rompendo com padrões que normalmente são esperados pela educação,
cultura, religião, etc. E isso sem apresentar longos períodos depressivos, ao
contrário, ganhando em maturidade.
O que leva a pessoa resiliente sair de uma situação horrível sem longos
períodos depressivos é a maturidade que ela adquire com a experiência do
embate, do sofrimento. Sendo assim a pessoa resiliente se fortalece na luta.
O que caracteriza uma pessoa como sendo resiliente é o conjunto de suas
crenças que possibilitam uma postura de transcender os empecilhos na vida, de
ler o ambiente e outras pessoas com acuidade e de imaginar um futuro com
superação.
As pessoas resilientes são reconhecidas na literatura como "os
sobreviventes", uma vez que resiliência é por excelência - sobrevivência.
Refiro-me à sobrevivência no âmbito social, conjugal, físico,
psicológico e profissional, mesmo diante do sofrimento ou tensão que lhes são
impostas.
O recurso que a pessoa resiliente utiliza para sobreviver é a maturidade
em equacionar de modo sensato os seus modelos de crenças básicos. A maturidade
se expressa em não ser apegado em demasia às crenças ao ponto de se tornar
intolerante ou, no outro extremo, ser apático demais a ponto de tornar-se
submisso demais nas situações de enfrentamento. Ou seja, atuar além da raiva
(intolerância) ou da tristeza (passividade) que são as emoções instintivas para
uma pessoa reagir à adversidade.
Das análises estatísticas posteriores à pesquisa de doutorado me foram
possível verificar que a pessoa com bons índices de resiliência traz a
capacidade de elaborar estratégias de como se posicionar na vida de forma
calculada. Isto é, assumir o risco - desde que ele assegure a sobrevivência.
Bem, mas e depois da resiliência (do sobreviver)?
Depois vêm outras disciplinas, como a qualidade de vida, a educação, a
profissionalização, a cultura, etc. Que aprimoram e enriquecem a sobrevivência
(a resiliência). Dessa forma, baixos índices de resiliência significam ameaças
à sobrevivência em uma dessas áreas.
O caminho de transcender às reações instintivas leva a pessoa resiliente
a viver e enxergar a vida com um rico sentido de vida.
Esse traço (contar com um Sentido de Vida) é constituído
fundamentalmente de autoconhecimento, da percepção do outro e da leitura do
ambiente.
Embora eu tenha iniciado as minhas pesquisas em 2004 descrevendo fatores
de resiliência, HOJE, mais maduro na teoria, eu ensino que se trata de oito (8)
Modelos de Crenças Determinantes (MCDs) em uma pessoa, como apregoa a teoria da
Terapia Cognitiva. São esquemas mentais (grupamentos de crenças acerca de uma
área da vida) que literalmente organizam a atitude, o comportamento, o
emocional e o intelecto de todos nós ( Freeman, 1998).
Esses MCDs são estruturados desde
a primeira infância. São crenças que se aglutinam quando vamos conhecendo /
aprendendo / experimentando os fatos da vida com aqueles que nos cercam. Esses
MCDs quando organizados com uma base adequada, já desde cedo, capacitam a
criança a aquilatar de forma simples e flexível suas convicções face as
adversidades. Os MCDs são mapeados por meio da escala de resiliência que
desenvolvi no doutorado (Barbosa, 2006).
Os MCDs são:
1 – MCD de
Autocontrole.
Capacidade de se administrar emocionalmente diante do inesperado. É
amadurecer no comportamento expresso, uma vez que será esse comportamento que
irá ser lido pelas outras pessoas.
2 – MCD de Leitura
Corporal
Capacidade de ler e organizar-se no sistema nervoso / muscular. É
amadurecer no modo como lidar com as reações somáticas que surgem quando a
tensão ou o estresse se tornam elevados.
3- MCD de Otimismo
para com a vida
Capacidade de enxergar a vida com esperança, alegria e sonhos. É a
maturidade de controlar o destino da vida, mesmo quando o poder de decisão está
fora de suas mãos.
4 – MCD de Análise
do ambiente
Capacidade de identificar e perceber precisamente as causas, as relações
e as implicações dos problemas, dos conflitos e das adversidades presentes no
ambiente.
5 – MCD de Empatia
Capacidade de evidenciar a habilidade de empatia, bom humor e de emitir
mensagens que promovam interação e aproximação, conectividade e reciprocidade
entre as pessoas.
6- MCD de
Autoconfiança
Capacidade de ter convicção de ser eficaz nas ações propostas.
7 – MCD do Alcançar
e Manter Pessoas
Capacidade de se vincular as outras pessoas sem receios ou medo de
fracasso, conectando-se para a formação de fortes redes de apoio e proteção.
8 – MCD do Sentido
de Vida
Capacidade de entendimento de um propósito vital de vida. Promove um
enriquecimento do valor da vida, fortalecendo e capacitando a pessoa a
preservar sua vida ao máximo.
Conclusão:
O entendimento de que a intensidade dada a um conjunto de crenças
determina se o comportamento expresso terá maior ou menor resiliência, a
clareza de que essa intensidade é dada de acordo com a maturidade em avaliar as
próprias crenças e que as crenças podem ser aglutinadas em modelos básicos ou
determinantes, são os desdobramentos fundamentais ao conceito de resiliência
aqui apresentado.
George Barbosa é Mestre e Doutor em Psicologia, atua como Coach. É o
Diretor Científico da Sociedade Brasileira de Resiliência.
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